30 de setembro de 2024
Em um país marcado por desigualdades culturais e sociais, a doação é uma força-motriz poderosa para a superação dessas barreiras.
E apesar da solidariedade ser um valor profundamente enraizado na cultura brasileira, a doação ainda não está amplamente disseminada.
Agora, uma iniciativa inédita do Movimento por uma Cultura de Doação (MCD) vai medir a real “temperatura” da filantropia brasileira. Trata-se do Termômetro da Doação, um instrumento complexo, composto por 46 rubricas que apresentam 40 índices de 18 fontes diferentes, abrangendo o período entre 2015 e 2023. O objetivo do Termômetro é traçar uma linha de base que permita acompanhar a evolução da cultura de doação, a partir de algumas diretrizes voltadas ao . E também indicar quais são as áreas que mais precisam de incentivo.
De acordo com a última edição do World Giving Index 2024, uma das maiores pesquisas sobre doação, realizada pela Charities Aid Foundation (CAF), o Brasil ocupa o 86° lugar do ranking mundial, composto por 142 países. Apesar de representar um avanço em relação ao ano anterior, ainda estamos muito distantes da nossa melhor pontuação, a 18ª posição, em 2021, quando os brasileiros foram extremamente generosos devido aos efeitos da pandemia da Covid-19.
Na pesquisa são feitas perguntas que ajudam a determinar em que nível cada país avaliado se encontra no desenvolvimento de sua cultura de doação. Os entrevistados são questionados se, no último mês: ajudaram um desconhecido; fizeram doação em dinheiro a uma organização social; trabalharam como voluntários.
Os mais generosos
Quem espera que os países mais generosos sejam as grandes potências, engana-se. Pelo sétimo ano consecutivo, o primeiro lugar no ranking foi da Indonésia, com 90% da população tendo doado dinheiro a uma ONG e 65% sendo voluntária.
Em segundo vem o Quênia, seguido por Cingapura, que subiu 19 posições, depois que o governo do país promoveu iniciativas para reforçar a filantropia e o voluntariado locais. Completam o TOP 10, respectivamente: Gâmbia, Nigéria, Estados Unidos, Ucrânia, Austrália, Emirados Árabes e Malta.
A cultura de doação no Brasil
Na edição de 2018 do World Giving Index, o País estava na lanterna, ocupando o 122º lugar. Em seis anos, subimos 36 posições. Mas se percebe que o aumento da solidariedade ocorre em momentos pontuais (como na pandemia), não é uma ação recorrente, o que torna o volume de doações no Brasil ainda baixo.
De acordo com outro estudo, a Pesquisa Doação Brasil, de 2022, 36% dos brasileiros fizeram doações em dinheiro para ONGs e 26% foram voluntários. Os dados mostram que é preciso fortalecer a cultura de doação no Brasil. Para isso, o gesto solidário deve se tornar uma prática regular e a instituição beneficiada oferecer transparência em sua gestão.
Fundos patrimoniais e cultura de doação
No País, a Lei nº 13.800/2019, que regulamenta a criação dos fundos patrimoniais filantrópicos (endowments, em inglês), funciona como grande aliada das doações ao terceiro setor. O Anuário de Desempenho dos Fundos Patrimoniais, publicação do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) e da Coalizão pelos Fundos Filantrópicos, apurou R$ 330 milhões em doações recebidas pelos 59 fundos participantes da pesquisa, na edição de 2022. Desse valor, R$ 248 milhões foram destinados a projetos socioambientais.
Os dados para o anuário de 2023 ainda estão sendo processados, mas o Monitor de Fundos Patrimoniais no Brasil, outra iniciativa do IDIS e da Coalizão, acompanha constantemente endowments em atividade no País. Até aqui, a ferramenta identificou 108 fundos ativos, com patrimônio total informado de mais de R$ 157 bilhões.
Os números mostram o quanto os fundos representam uma fonte estável e sustentável de financiamento para instituições sem fins lucrativos, permitindo que elas planejem e realizem seus projetos com mais segurança financeira, no longo prazo.
Um exemplo claro de que quanto mais forte for a cultura de doação, maior a chance de se criar um ciclo positivo de apoio regular e crescente a causas culturais e sociais.
