26 de maio de 2025
Em entrevista, o professor Jorge Schwartz, patrono do Fundo USP Diversa e primeiro doador recorrente, conta como ele, nascido na Argentina e formado em Israel, acabou se envolvendo profundamente com a USP.
Eu nasci na Argentina, mas fiz a graduação na Universidade Hebraica, de 1967 a 1970, por meio de um programa de intercâmbio. Na volta, vim passar férias no Brasil, e acabei ficando, pois consegui me inscrever na pós-graduação em Teoria Literária, com o professor Antonio Candido, ao mesmo tempo em que fui aceito como docente na área de Espanhol. É curioso que esse movimento, hoje, é impensável, devido aos processos seletivos que exigem, no mínimo, o título de doutorado, e conta com muita gente formada e qualificada concorrendo. Porém, eu não poderia imaginar que levaria cinco anos para eu receber o primeiro salário! Na época, havia uma lista enorme de docentes sem receber e uma famosa fila, que foi zerada, supreendentemente, durante o governo do Paulo Maluf!
Da forma mais circunstancial possível. Lendo nos jornais a notícia, muito divulgada, sobre um docente do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) que herdara da família um prédio avaliado em R$ 25 milhões, e que decidiu doá-lo para o Fundo Patrimonial da USP. Foi assim que tomei conhecimento do programa. liderado pelo professor Hélio Nogueira da Cruz, que foi meu contemporâneo na Universidade de Yale. As conversas com ele foram decisivas no sentido de me incorporar ao Fundo USP Diversa.
Sempre achei inspiradores os programas de captação de recursos dos alumni das universidades norte americanas. Por aqui, a filantropia de ex-alunos ainda está engatinhando. Para quem está acompanhando as loucuras do governo de Donald Trump, acho que Harvard teve a coragem de reagir graças às reservas financeiras e às novas doações. Pode parecer estranho que manter a independência do governo dependa diretamente do capital.
No primeiro momento, pensei em deixar estipulada uma doação em testamento. Depois, ocorreu-me antecipar a doação, passando a fazer contribuições mensais, para que o Programa USP Diversa possa ter um benefício imediato, sem ter que aguardar um inventário.
Estipulei que as bolsas derivadas de minha contribuição sejam destinadas a alunos de graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), em condição de anonimato. Sei que há uma demanda reprimida enorme de alunas e alunos que não conseguiriam frequentar a USP sem algum tipo de subvenção e os critérios seletivos não poderiam ser melhores.
Ainda uma observação: sempre procurei uma forma de retribuir uma carreira como a minha, toda ela realizada em instituições públicas, desde o colegial. O Fundo UPS Diversa veio ao encontro deste desejo.
Embora o fato de a USP ser gratuita já significar um enorme benefício, as desigualdades deste país dificultam o acesso à Educação. Um sistema forte de bolsas sem dúvida ajudaria a uma sociedade mais igualitária. Então, me atreveria a dizer que gostaria de ampliar o que já existe: as cotas raciais e inclusão de minorias.